VALOR ECONÔMICO, n 5420, 19/01/2022, Política, A8
Candidatura no Espírito Santo pode se tornar mais um foco de tensão
João Valadares
Em mais um movimento para se fortalecer nas negociações em Estados considerados prioritários para o PSB, o PT tem estimulado a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato ao governo do Espírito Santo. O governador Renato Casagrande (PSB) vai disputar a reeleição.
“Eu sou pré-candidato pelo PT no Espírito Santo. Isso está posto”, disse Contarato em entrevista ao Valor. Ele vai se filiar ao PT na próxima semana. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve participar do evento.
O senador ponderou que a prioridade é a aliança nacional para fortalecimento da pré-candidatura de Lula à Presidência da República. “Não há intransigência de nossa parte. Se lá na frente houver um ajuste nacional e isso [pré-candidatura] for posto na mesa, eu tenho que cumprir o que for do interesse do partido”, avaliou.
A movimentação do PT no Espírito Santo assemelha-se aos passos dados pela sigla em Pernambuco. Estimulada por Lula, a legenda lançou a pré-candidatura do senador Humberto Costa (PT) ao governo estadual. O objetivo principal do PT é ter cartas na manga para jogar na mesa de negociação com o PSB sobre arranjos eleitorais regionais.
Um dos principais nós a serem desatados é São Paulo. O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ex-governador Márcio França (PSB) são pré-candidatos ao governo paulista. Até o momento, PT e PSB não abrem mão da cabeça de chapa. Alguns integrantes do PSB já defendem reservadamente que França deveria disputar o Senado na chapa encabeçada por Haddad.
No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande tem restrições ao PT. Um dos pontos que tem distanciado ainda mais as siglas localmente é o fato de o governador ter como secretário de Planejamento Gilson Daniel, filiado ao Podemos, que está na pré-campanha do ex-juiz Sergio Moro. “O fato de o governador não ter proximidade com o PT fortalece ainda mais a possibilidade de uma candidatura própria do PT”, avalia Contarato.
O tensionamento das disputas locais ocorre no momento em que PT e PSB discutem, ao lado de outras siglas menores, a formação de uma federação partidária. Além dos impasses regionais, as resistências internas, as dúvidas sobre o funcionamento e o calendário eleitoral apertado têm travado as discussões.
O secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, avalia que a aliança nacional entre PT e PSB está encaminhada. “O PSB vai estar conosco. Se o PSB quiser lançar candidato em São Paulo, lança. Não estamos condicionando o apoio em Pernambuco ou em outro lugar, por exemplo”, diz.
Ele avalia que o mais natural seria o PSB abrir mão em São Paulo. “Com jeito, com carinho e sem arrogância as coisas se resolvem”, disse.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, reúne-se amanhã em Brasília com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, para retomar as negociações. No fim do ano passado, depois de reunião tensa com Lula em São Paulo, o dirigente do PSB reclamou publicamente da condução dos petistas nas conversas sobre composições eleitorais.