VALOR ECONÔMICO, n 5420, 19/01/2022, Política, A8 
Lula defende retomada do Brasil como exemplo mundial de vacinação 
Cristiane Agostine 

 

Pré-candidato à Presidência pelo PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende resgatar a tradição do Brasil na vacinação e tornar o país novamente um exemplo mundial tanto na aplicação de vacinas como na distribuição de imunizantes para outros países, caso seja eleito. 

Lula e o PT começaram a elaborar propostas para a área da saúde, que serão apresentadas no plano de governo. Entre as medidas defendidas, estão o aumento da produção de vacinas em institutos públicos; mais investimentos em pesquisa, com o fortalecimento de entidades como a Capes e o CNPQ; e um programa de incentivos ao complexo industrial da saúde, para ampliar a produção de vacina, insumos e equipamentos no país. Com isso, pretendem diminuir a dependência em relação à Ásia e exportar para Europa e EUA. 

Ontem, o ex-presidente se reuniu com seis ex-ministros da Saúde, ex-presidentes da Anvisa e da ANS e ex-dirigentes das duas agências de saúde, além do prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), cidade tida como referência no interior de São Paulo no combate à pandemia. O encontro durou cerca de três horas, na Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Participaram os ex-ministros Humberto Costa, José Saraiva Felipe, José Agenor Álvares da Silva, José Gomes Temporão, Alexandre Padilha e Arthur Chioro. Na semana passada, Lula reuniu-se com economistas e ex-ministros para tratar de propostas para a Economia, e com centrais sindicais e representantes do governo espanhol para falar sobre a reforma trabalhista. O combate à pandemia e medidas para retomar o crescimento econômico e reduzir a pobreza devem ter destaque no programa petista. 

Lula e especialistas discutiram a necessidade de acelerar a realização de cirurgias eletivas e exames, que ficaram pendentes durante a pandemia e prejudicaram sobretudo pacientes com doenças graves, como câncer. Os especialistas defenderam a reconstrução da gestão do Ministério da Saúde e a destinação de mais recursos para a área, com o fim do teto de gastos e mudanças no Orçamento. A equipe criticou ainda a destinação de recursos de custeio da Pasta para emendas parlamentares. 

No curto prazo, os especialistas pressionaram pela vacinação em massa de crianças, com a inclusão de menores de cinco anos; defenderam a ampla testagem da população e a distribuição de máscaras com alto grau de proteção pelo SUS. 

Professor de pós-graduação da Unifesp e pesquisador, o ex-ministro Arthur Chioro destacou que o Brasil sempre teve papel fundamental na diplomacia da saúde” e ajudava na distribuição de imunizantes a países pobres. “Nosso programa nacional de imunização sempre foi um exemplo. Hoje nós nos transformamos em um pária”, disse. O ex-ministro disse que o Brasil tem papel estratégico no cenário internacional para ajudar o mundo a “encontrar uma resposta” para ampliar em larga escala a vacinação. “Já fizemos isso em outros momentos. Hoje o Brasil se tornou um pária”, reiterou. 

Presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante disse que o teto de gastos, que restringiu investimentos na saúde, “nunca foi respeitado e empurrou bombas fiscais” para os próximos anos.