Correio Braziliense, n. 22714, 29/05/2025. Política, p. 3
Biometria teria evitado fraudes, diz delegado
Wal Lima
Em audiência na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, da Câmara, o delegado da Polícia Federal Carlos Henrique Oliveira de Sousa afirmou que mais da metade dos casos de fraudes no INSS poderiam ter sido evitados com o uso de biometria no aplicativo Meu INSS. Segundo ele, a governança da autarquia “não funcionou”, o que abriu brecha para os desvios, mencionando pesquisas de outros agentes policiais sobre os crimes previdenciários.
“Nós temos uma especialização dentro da Polícia Federal no combate aos crimes previdenciários. A gente tem colegas que fizeram mestrado, e eles apuraram que, se a biometria tivesse efetivamente instaurada, 58% das fraudes poderiam ter sido evitadas”, ressaltou.
Ele comentou que os primeiros inquéritos chegaram à Polícia Federal em maio de 2023, mas o relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), em junho do ano passado, foi o ponto de virada, porque o documento destacava 11 entidades envolvidas responsáveis por 90% dos descontos irregulares nas folhas de aposentados e pensionistas. Com isso, as investigações mostraram a proximidade de um diretor do INSS com as entidades associativas.
“Nas investigações e levantamentos em fontes abertas, ficava claro o envolvimento de um diretor especificamente com uma das entidades. Ele chega a ir a algum evento público de uma dessas entidades, que mostrava claramente a relação pessoal dele com essas entidades”, contou, sem citar o nome.
Sousa ainda comentou sobre a existência de um inquérito principal, que apura a responsabilidade de servidores e outros inquéritos, nos estados, para verificar cada associação envolvida nos descontos indevidos.
O delegado também informou que as investigações da PF foram unificadas em 2024, em razão do relatório encaminhado pela CGU. Atualmente, além do inquérito principal em Brasília, existem 13 em seis estados com a atuação de aproximadamente 50 servidores da Polícia Federal, segundo Sousa.
A audiência pública foi proposta pelos deputados Cabo Gilberto Silva (PL-PB) e Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), para obterem mais detalhes sobre a ação policial.
Bilynskyj acusou falta de empenho do governo no caso e avaliou que, mesmo que esse efetivo policial viesse a dobrar, ainda seria pequeno. “Cem policiais para maior fraude da história do INSS é um absurdo”, criticou.