O GLOBO, n 32.350, 03/03/2022. Mundo, p. 18
ONU pede tratamento igual para africanos que deixam a Ucrânia
Com mais 200 mil novos refugiados em um dia, total chega a quase 900 mil
O número de refugiados ucranianos em países vizinhos aumentou em 200 mil pessoas em 24 horas, segundo divulgou ontem o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), elevando o total para cerca de 874 mil desde o início da invasão russa da Ucrânia , no último dia 24.
A Acnur também fez um apelo às autoridades de países vizinhos da Ucrânia para que abram suas fronteiras para africanos que fogem do conflito, uma vez que têm aumentado os relatos de que alguns estão sendo obrigados a ir para o fim da fila de entrada ou impedidos de embarcar em trens para a fronteira.
O porta-voz do Acnur, Buchizya Mseteka, afirma que a agência ainda não verificou os relatos, mas pede aos países que fazem fronteira com a Ucrânia que garantam asilo e proteção para todos.
—O Acnur está muito preocupado com as denúncias de discriminação racial — diz Mseteka. — Nossa posição é que, independentemente de nacionalidade e raça, as pessoas que buscam proteção devem ter permissão para buscar segurança e deixar a Ucrânia.
Cidades de toda a Ucrânia tradicionalmente abrigam dezenas de milhares de estudantes africanos que cursam medicina, engenharia e assuntos militares. A União Africana também afirma estar preocupada com as denúncias.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, escreveu em um tuíte que os africanos que buscam refúgio precisam ter oportunidades iguais para retornar a seus países de origem com segurança e que seu país ajudaria a resolver o problema.
Já o gabinete do primeiro ministro polonês, o ultranacionalista Mateusz Morawieck, postou no Twitter que a Polônia “oferece abrigo a todos que fogem da agressão russa contra a Ucrânia, independentemente de sua nacionalidade e etnia”.
Tanto a Polônia quanto outros países do Leste europeu, como a Hungria, já foram criticados no passado por se recusarem a receber refugiados do Oriente Médio e da África.
DISTRIBUIÇÃO POR PAÍSES
Os últimos dados mostram que 874.026 pessoas fugiram da Ucrânia para países vizinhos em sete dias. Os números incluem pessoas que fugiram do território controlado pelo governo ucraniano, com mais de 37 milhões de habitantes, mas não a Península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, nem as duas áreas nas mãos de separatistas pró-Moscou no Leste do país.
Segundo a ONU, a Polônia recebeu 453.982 pessoas. No país, onde 1,5 milhão de ucranianos já viviam antes da ofensiva russa, as pessoas se organizam nas redes sociais para arrecadar dinheiro e remédios e também oferecer moradia, alimentação, trabalho ou transporte gratuitos aos refugiados.
A Hungria recebeu 116.348 refugiados. O país tem cinco postos de fronteira com a Ucrânia e várias cidades vizinhas, como Zahony, disponibilizaram prédios públicos para acomodar os ucranianos.
Outros 79.315 refugiados foram para a Moldávia, enquanto 44.540 foram recebidos em dois acampamentos da Romênia. E cerca de 67 mil ucranianos estão na Eslováquia.
PROTEÇÃO EXPRESSA
A agência da ONU também especificou que 69.600 pessoas se refugiaram em outros países europeus, mais distantes das fronteiras da Ucrânia, como a República Tcheca (20 mil refugiados).
A Comissão Europeia propôs a concessão de proteção temporária automática para pessoas que fogem da guerra , incluindo autorização de residência e acesso a emprego e assistência social.
Os refugiados receberão proteção temporária assim que a proposta for aprovada pelos ministros do Interior da UE, o que deve ser feito hoje.
A medida de proteção, incluindo acesso a moradia e assistência médica, será concedida sem longos procedimentos de pedidos de asilo. Pode durar até três anos — a menos que a situação na Ucrânia melhore o suficiente para que as pessoas possam voltar para casa.