O GLOBO, n 32.350, 03/03/2022. Economia, p. 13

Para investidores, o temor de uma segunda Guerra Fria



Desde o esfacelamento da União Soviética, investidores usufruem há décadas de uma relativa estabilidade econômica global, na qual conflitos militares e diplomacia estrangeira têm um papel secundário nos mercados. A invasão da Ucrânia pela Rússia, no entanto, transforma essa dinâmica, uma vez que a disputa entre nações poderosas terá consequências devastadoras.

O maior conflito militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial —somado às tensões iminentes entre os Estados Unidos e a China —fez com que os investidores acompanhassem de perto as mudanças do poder internacional, como há muito tempo não se via.

—Esta situação da Rússia complica ainda mais as relações globais e hoje, certamente, é o tema central da conversa de investidores — afirma Daniel Ivascyn, diretor de investimentos da Pimco, gestora que detém mais de US$ 2,2 trilhões (R$ 10 trilhões) em ativos.

Há muito tempo o mercado financeiro tem sido sensível a acontecimentos geopolíticos, como eleições, interrupções de fornecimento e problemas comerciais, que podem interferir nos preços. E, em poucos dias, a invasão na Ucrânia provocou uma série de manobras econômicas, capazes de rapidamente mudar a forma como países obtêm dinheiro, compram matéria-prima e fazem negócios.

Os Estados Unidos e seus aliados europeus anunciaram que congelariam quaisquer ativos do Banco Central russo depositados em instituições financeiras americanas, o que tornaria mais difícil para o governo de Vladimir Putin sustentar a cotação do rublo. Novas sanções também proibiram alguns bancos da Rússia de realizar transações internacionais.

Os operadores de ações, que já enfrentavam as incertezas provocadas pela pandemia, precisam agora encarar este conflito armado, que pode prejudicar qualquer negócio que dependa de commodities ,como petróleo, gás natural, grãos e metais.

Essas e outras medidas —a Rússia é a terceira maior produtora global de petróleo, atrás apenas de EUA e Arábia Saudita —abalaram os mercados em todo o mundo.

Para Jason Schenker, presidente da consultoria americana Prestige Economics, o ressurgimento das tensões entre os países ocidentais e a Rússia é como uma segunda Guerra Fria.

—Existe uma competição por influência mundial e poder mundial, mas agora há muito mais interesses em jogo —diz. —Podemos estar diante de uma longa batalha de sanções e de diplomacia. E podemos ver os impactos de mais ação militar.