O GLOBO, n 32.350, 03/03/2022. Economia, p. 13
BC russo injeta US$ 26 bi no sistema financeiro
Autoridade monetária reduz exigência de capital para os bancos do país. Um dos objetivos é evitar quebradeira de instituições em meio a corrida de clientes para sacar recursos, que levou à bancarrota da filial europeia do Sberbank
Em mais uma tentativa de conter os efeitos de uma fuga de capitais que já fez o rublo desabar, o Banco Central russo reduziu as exigências de capital para as instituições financeiras que operam no país. Em comunicado divulgado no fim da noite de ontem, a autoridade monetária russa informou que, a partir de hoje, o volume de capital exigido dos bancos como reserva de segurança para manter suas operações — de concessão de crédito a transações corriqueiras —será reduzido.
No total, a nova regra vai reduzir em 2,7 trilhões de rublos, ou cerca de US$ 26 bilhões (R$ 132 bilhões), as exigências de capital. Na prática, este volume de recursos será liberado no mercado financeiro local, para diminuir a asfixia enfrentada pelos bancos russos devido às sanções ocidentais.
A medida também é uma tentativa de evitar uma quebradeira generalizada de bancos, pois a população tem tentado sacar seus recursos das instituições. Ontem surgiu a primeira vítima das sanções: o braço europeu do Sberbank, o maior banco russo, quebrou devido à corrida dos clientes por dinheiro.
A filial europeia do Sberbank é sediada na Áustria e será liquidada. Unidades na Croácia e na Eslovênia foram vendidas para bancos concorrentes locais.
SEM ACESSO A RESERVAS
A fim de enfrentar a crise financeira decorrente das sanções, o BC russo já havia dobrado a taxa básica de juros do país, de 9,5% para 20% ao ano, e adotado medidas de controle de capital.
Normalmente, em situações de crise cambial como a que a Rússia vive hoje, os bancos centrais usam suas reservas internacionais para vender dólares no mercado e, assim, conter a desvalorizações de suas moedas.
A Rússia tem uma das maiores reservas internacionais do mundo: US$ 630 bilhões.
Mas esses recursos, em grande parte depositados em instituições ocidentais, estão bloqueados pelas sanções. Com isso, o país tem poucas alternativas para segurar o rublo e conter a fuga de capitais.
A situação do Sberbank é emblemática. Por causa da invasão russa, seus recibos de depósito negociados em Londres viraram pó: a queda acumulada chegou a 99,9%. Isso para uma instituição que, em 31 de dezembro de 2020, tinha ativos de € 13 bilhões (cerca de R$ 74 bilhões).
Controlado pelo Estado russo, o Sberbank é o maior credor do país. Sua filial europeia lhe garantia presença em oito países: Alemanha, Áustria, Croácia, República Tcheca, Hungria, Eslovênia, Sérvia e Bósnia-Herzegovina, com 800 mil clientes, entre pessoas físicas e empresas.
OLHARES SE VOLTAM AO VTB
Cada país lidará com o Sberbank a sua maneira. Na Áustria, por exemplo, o governo garante depósitos até € 100 mil. Já na Hungria, as autoridades locais ainda não tomaram uma decisão.
O destino do Sberbank na Europa foi anunciado pelo Single Resolution Board (SRB), regulador financeiro da zona do euro, na noite de terça-feira. Há temor agora sobre a filial europeia do segundo maior banco russo, o VTB.