Valor Econômico, v. 22. n. 5420, 19/01/2022, Empresas, B4
Petróleo atinge maior cotação desde 2014 por receio com oferta
Tom Wilson e Sarah Provan
Os preços do petróleo atingiram seu maior patamar em sete anos nesta terça-feira, impulsionado pelas apostas de que a demanda poderia superar a oferta ainda em 2022, um cenário que também ameaça alimentar novas altas na inflação mundial.
O barril do tipo Brent, referência internacional nas negociações da commodity energética, subiu 1,3%, para US$ 87,63 [nas negociações do meio do dia], maior patamar desde outubro de 2014, quando a cotação chegou superou os US$ 115.
Tanto o Brent quanto o West Texas Intermediate (WTI), referencial para o mercado americano do petróleo, acumulam valorização em torno a 13% desde o início do ano. A cotação do WTI chegou a US$ 85,74. [No fim do dia, Brent e WTI fecharam cotados a US$ 86,74 e US$ 84,83 o barril, respectivamente, nas bolsas de Londres e Nova York]
Alguns analistas preveem que os referenciais do petróleo poderiam superar os US$ 100 por barril neste ano, a menos que ocorra um aumento na oferta.
Paul Horsnell, estrategista de commodities no Standard Chartered, disse que alguns operadores vêm apostando que a oferta terá dificuldades para acompanhar a demanda, uma vez que a economia mundial continua recuperando-se da desaceleração iniciada em 2020 em decorrência da pandemia da covid-19.
“O júri ainda está deliberando sobre qual seria a capacidade ociosa [de produção], mas quando se materializa uma percepção de que seria bem fininha, isso pressiona os preços para cima”, disse.
Os Estados Unidos defendem que os principais produtores de petróleo do mundo, representados pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), aumentem a produção mais rapidamente para ajudar a controlar a inflação. Os preços ao consumidor nos EUA, na comparação anual, subiram 7% em dezembro, a maior elevação desde 1982.
Até agora, no entanto, a Opep e seus aliados mantiveram o plano acordado em julho, de retomar apenas gradualmente a produção cortada no início da pandemia, elevando-a em 400 mil barris diários a cada mês.
A estratégia ajudou os preços do petróleo a subir desde agosto, mas nem todos os membros do grupo Opep+ (que inclui a Rússia desde 2016) conseguiram atingir suas cotas mensais, aumentando os temores de que a capacidade de produção extra no mercado seria limitada.
“Os operadores sempre vão querer se antecipar a qualquer história”, disse Horsnell. Ele acrescentou, porém, que os cálculos do Standard Chartered indicam que nenhum déficit real de oferta se materializaria antes de 2024.
“Acho que há capacidade ociosa suficiente na Arábia Saudita, no Iraque, nos Emirados [Árabes Unidos] e em um ou outro lugar por aí, indicando que não há circunstâncias neste ano, a não ser por alguma grande interrupção geopolítica no fornecimento, em que capacidade ociosa possa cair abaixo de 3 milhões de barris por dia e comece a ficar um pouco estreita.”