O GLOBO, n 32.350, 03/03/2022. Política, p. 6
Podemos já admite aliança “enxuta'' para Sergio Moro
Bianca Gomes
Partido conversa com PSC e vê paralisação na negociação com União Brasil, que, por sua vez, mantém diálogo com MDB e PSDB
Enquanto União Brasil, MDB e PSDB negociam uma aliança para as eleições deste ano, o Podemos já cogita a possibilidade de o ex-ministro da Justiça Sergio Moro ser candidato à Presidência com o apoio de poucos partidos e sem acesso às maiores fatias do fundo eleitoral e da propaganda no rádio e na televisão.
—Gostaríamos de ter uma aliança mais robusta, mas, se não for possível, não vejo problema em sair com uma coligação enxuta, como fizemos nas (eleições) para prefeito (em 2020) — disse a presidente da sigla, a deputada Renata Abreu (SP).
A possibilidade de manter a candidatura com poucos apoiadores foi confirmada por outros integrantes da campanha de Moro.
Como plano B, a legenda de Moro já abriu diálogo com siglas menores, como o PSC, que indicou o vice do senador Álvaro Dias nas eleições presidenciais de 2018. A aliança, ainda não consolidada, encontra resistência de nomes do partido que não querem se associar à legenda comandada pelo Pastor Everaldo, preso pela Operação Lava-Jato em agosto de 2020.
Empatado tecnicamente em terceiro lugar com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), segundo pesquisa Datafolha de dezembro, o ex-juiz da Lava-Jato tem negociado desde o final do ano passado uma aliança com o União Brasil, interesse que tem como pano de fundo o acesso ao maior fundo eleitoral. As conversas, no entanto, ainda não prosperaram e foram paralisadas em função da janela de filiações partidárias.
Um dos empecilhos para o apoio é a resistência de parlamentares do DEM que não concordam com o nome do ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL). Soma-se a isso as recentes negociações do partido de Luciano Bivar com o PSDB e o MDB, que têm como pré-candidatos o governador de São Paulo, João Doria, e a senadora Simone Tebet, respectivamente. Os três partidos estudam formar uma federação, ou mesmo uma coligação, para o lançamento de uma única candidatura ao Planalto.
Renata Abreu, que ainda acredita no apoio do União Brasil, afirma que mantém conversas sobre como unificar as candidaturas da chamada terceira via. Sem o apoio do União, o Podemos fica isolado politicamente para as eleições de outubro, já que boa parte dos partidos do Centro apoia a candidatura de Bolsonaro.
Aliados do ex-ministro dizem que dinheiro não é determinante para o sucesso na eleição deste ano. Entre os exemplos citados está a candidatura de Geraldo Alckmin (sem partido) para o Planalto, em 2018, em uma coligação que reuniu nove partidos, mas mesmo assim foi derrotada.
AMPLIAÇÃO DA BANCADA
No entanto, parlamentares do Podemos ouvidos reservadamente avaliam que o fundo, estimado em R$ 197,33 milhões, é insuficiente para bancar uma campanha nacional e ainda investir na ampliação da bancada do Congresso.
A meta da direção nacional é mais que dobrar o número de eleitos em relação a 2018, indo de 11 para 25 deputados. Pela cláusula de barreira, para ter acesso ao fundo eleitoral a legenda precisa eleger 11 deputados. Quanto mais parlamentares, maior a fatia do dinheiro público.
A direção do Podemos nega que haja preocupação com os recursos. Segundo a presidente, é possível repetir o modelo das eleições municipais, quando a sigla conquistou prefeituras de cidades médias, como São Luís, Osasco (SP), Mogi das Cruzes (SP) e Blumenau (SC) com chapas enxutas.
A possibilidade de ter um caixa mais apertado também tem reforçado a aposta na campanha digital de Moro, que, em janeiro, ganhou um reforço com a filiação de lideranças do Movimento Brasil Livre (MBL). A dedicação ao universo digital se traduz, por exemplo, no recém lançado podcast “deMorô”.
Outra fonte de recurso esperada é a doação de empresários, tarefa que ficou a cargo do coordenador da campanha e amigo de Moro, Luís Felipe Cunha. Para atrair esse público, o ex-ministro tem reafirmado sua condição de candidato reformista e com agenda liberal, discurso semelhante ao que Bolsonaro adotou nas últimas eleições.