Valor Econômico, v. 22. n. 5420, 19/01/2022, Agronegócios, B7
Conab atesta aperto na oferta de café no país
José Florentino
A colheita brasileira de café deverá totalizar 55,7 milhões de sacas de 60 quilos em 2022, informou ontem a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em seu primeiro levantamento sobre a safra. O volume -é 16,8% maior que o do ano passado, mas representa um declínio em comparação com as temporadas de 2018 e 2020, as duas últimas de bienalidade positiva, em que a produtividade dos cafezais é naturalmente maior.
Como lembrou a estatal em nota técnica, a diminuição da colheita em relação às safras de 2018 e 2020 é reflexo do clima adverso registrado em algumas das principais regiões produtoras do grão no país entre os meses de julho e agosto do ano passado. “A estiagem e as geadas, ocorridas com maior intensidade nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, tiveram impacto sobre as condições fisiológicas dos cafezais. Com isso, a produtividade, em especial da espécie arábica, não deveá manifestar seu pleno potencial produtivo”, afirmou a Conab.
A companhia ressalta, porém, que a produção de café arábica deverá crescer 23,4% em relação à safra anterior, para 38,7 milhões de sacas. Já para o conilon, a expectativa é de novo recorde, com a colheita podendo chegar perto de 17 milhões sacas, o que, caso se confirme, será um aumento de mais de 4% em relação à safra anterior.
Somadas as plantações de arábica e conilon, o café deverá ocupar 2,23 milhões de hectares na temporada, um aumento de 1,7% em comparação com o ciclo anterior. Se consideradas apenas as lavouras em produção, a área deve ser de 1,824 milhão de hectares, praticamente estável em relação ao ano passado. A área de cafezais em formação, por sua vez, deverá ter acréscimo de 6,4%, alcançando 416,7 mil hectares.
De acordo com a Conab, na comparação com 2020, último ano de bienalidade positiva, o crescimento das áreas em que não há produção chega a 50%. “Esse grande aumento da área em formação mostra os efeitos das condições climáticas adversas registradas no ano passado. A estiagem e as baixas temperaturas exigiram um manejo de poda mais intenso, conduzindo uma área significativa de café para produção somente na safra 2023 ou 2024”, ressalta o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sergio De Zen.
A estatal projeta um cenário de oferta restrita de café no mercado interno em virtude da queda de produção no ano passado e da forte demanda para exportação. “Mesmo com o aumento da produção no país que se estima para 2022, a tendência é que os preços do produto se mantenham pressionados, uma vez que é esperada uma redução nos estoques mundiais de café para o ciclo 2021/22. Esse panorama de preços elevados estimula as vendas externas”, diz a Conab.