O GLOBO, n 32.351, 04/03/2022. Economia, p. 13
Brasil mantém atratividade, e dólar recua a R$ 5,02
Vitor da Costa
Analistas apontam fluxo cambial 'muito favorável' ' para o real em meio ao conflito armado na Europa
O dólar comercial encostou ontem nos R$ 5, mesmo com um ambiente negativo no exterior. O conflito entre Rússia e Ucrânia continua a ditar o ritmo dos mercados, com os investidores atentos a uma nova rodada de negociações entre os dois países e aos preços das commodities.
A moeda americana recuou 1,55%, a R$ 5,0260. O real vem se beneficiando da valorização das commodities, que dá impulso a moedas de países exportadores, como o Brasil, e de um fluxo de recursos estrangeiros destinados aos emergentes.
Já o Ibovespa, principal índice da B3, que passou boa parte dos negócios no azul, encerrou com leve queda de 0,01%, aos 115.166 pontos.
Na Europa, a Bolsa de Londres cedeu 2,57%, enquanto Frankfurt e Paris caíram 1,84% e 2,16%, respectivamente. Em Nova York, o índice Dow Jones recuou 0,29% e o S&P, 0,53%. A Nasdaq teve queda de 1,56%.
PORTO SEGURO
Para o diretor da FB Capital, Fernando Bergallo, o Brasil vem se credenciando como destino preferencial dos recursos estrangeiros:
—Estamos em um momento com muita turbulência na Europa. Nossos juros estão voltando apagar um prêmio para o risco que o país oferece e devem continuar subindo por causa da inflação, e as commodities estão em alta. Criou-se um fluxo cambial para o Brasil muito favorável.
O economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, ressalta que, além de commodities e juros, devido aos problemas geopolíticos da Rússia, o Brasil se mostra hoje um emergente mais atraente para o capital estrangeiro.
— Há muitos investidores internacionais se perguntando se devem ficar expostos ou se devem procurar países que, em tese, são mais seguros. E, neste momento, o Brasil se apresenta como um deles. Estamos pagando juros absurdamente altos e temos um governo que não vai dar calote. Isso torna a nossa moeda, neste momento, um porto seguro —afirmou Espírito Santo.
Ele avalia que o dólar pode se acomodar na casa dos R$ 5, ou até mesmo ficar abaixo desse patamar, a depender dos desdobramentos da guerra.
Já Bergallo vê o dólar mantendo a trajetória de queda:
— A Bolsa está muito barata em dólar, e a moeda ainda está com valor alto se comparado ao período pré-pandemia.
Depois de atingir US$ 119,84, a maior cotação desde 2012, o barril do petróleo tipo Brent encerrou em queda de 2,18%, a US$ 110,46. Já o WTI, que bateu durante o pregão US$ 116,57 — patamar mais alto desde setembro de 2008 —, recuou 2,6%, a US$ 107,67.
Com isso, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras caíram 0,80%, e as preferenciais (PN, sem voto), 1,24%.