O GLOBO, n 32.351, 04/03/2022. Política, 8
Tarcísio tenta atrair “órfãos” de Alckmin em SP
Gustavo Schmitt e Guilherme Caetano
Ministro intensifica viagens e inaugurações em São Paulo e prioriza reuniões com prefeitos de cidades pequenas e médias que ficavam na órbita do ex-governador em vez de caciques partidários. PCdoB confirma apoio a Haddad e pressiona França
Em meio a defecções no PSDB de São Paulo com a saída do ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido), o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, busca o apoio de prefeitos do interior paulista à sua pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes e tem intensificado agendas em São Paulo. Desde fevereiro, ele passou oito dias no estado, o que supera com folga o primeiro trimestre do ano passado, quando houve duas visitas.
Um dos 11 ministros que devem deixar o governo para disputar as eleições, Tarcísio estará, hoje, ao lado do presidente Jair Bolsonaro em São José dos Campos, no Vale do Paraíba — área de grande influência de Alckmin. Eles vão participar de uma cerimônia de renovação da concessão da Rodovia Presidente Dutra.
Segundo aliados, Tarcísio mira a fragmentação tucana e a resistência ao governador João Doria no PSDB para tentar ampliar espaço em São Paulo, onde a maioria dos palanques está fechada com o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB). O tucano tem apoio de União Brasil, Cidadania e MDB, o que lhe confere quase 80% das prefeituras.
Para se aproximar das lideranças regionais, Tarcísio tem se reunido com políticos de cidades médias e pequenas. Já recebeu, em Brasília, os prefeitos de Taubaté, São João da Boa Vista e Santa Fé do Sul.
—Ele( Tarcísio) está realizando obras federais importantes para a nossa região. Isso acaba que naturalmente traz apoio para a candidatura dele —afirma o prefeito de Taubaté, José Antonio Saud (MDB), que diz esperar um posicionamento do seu partido.
Nem todos acreditam nos resultados dessa estratégia. Aliados de Garcia e de Doria creem no desgaste de Bolsonaro, que tem forte rejeição, e na força da máquina estadual e na organicidade do PSDB, que comanda 250 prefeituras e tem este ano R$ 22 bilhões em investimentos previsto para o estado, a maior parte para obras.
Questionada sobre o aumento da frequência das visitas a São Paulo, a assessoria de imprensa do ministro afirmou que o estado concentra os principais ativos da infraestrutura do Brasil.
PCDOB COM HADDAD
O PCdoB anunciou ontem apoio à pré-candidatura do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) ao governo do estado. A decisão aumenta a pressão sobre o pré-candidato do PSB, Márcio França, que tenta se viabilizar como o candidato único dessa aliança.
O impasse ocorre porque PT, PSB, PCdoB e PV estudam formar uma federação. Caso a aliança se formalize, apenas Haddad ou França poderiam concorrer pela federação ao Palácio dos Bandeirantes. Ainda que a federação não saia do papel, os dois partidos devem estar juntos na eleição nacional, e é de interesse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter apenas um candidato em São Paulo.
Durante o anúncio, os dirigentes do PCdoB colocaram panos quentes num eventual desconforto aos pessebistas. Preocupados em não melindrar França, eles afirmaram que a decisão foi informada ao PSB com antecedência.
—Considero que (o PSB recebeu a decisão) com tranquilidade e com respeito. Nós vamos estar juntos, e precisamos ter as relações mais francas e transparentes possíveis —afirmou Rovilson Britto, presidente estadual do PCdoB.
Publicamente, lideranças do PCdoB negam que o apoio a Haddad, atitude que traduzem por “opinião política”, possa prejudicar as conversas pela implementação da federação. Os comunistas avaliam que Haddad tem mais chances de derrotar Garcia e Tarcísio.