Valor Econômico, v. 22. n. 5421, 20/01/2022, Brasil, A4
Cidade de São Paulo tem recorde de famílias endividadas, indica Fecomercio
Anaïs Fernandes
A cidade de São Paulo encerrou 2021 com recorde de famílias endividadas e intenção de consumo limitada pela alta da inflação, aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (FecomercioSP).
No fim de 2021, 74,5% das famílias paulistanas estavam endividadas, o maior número da série, iniciada em 2010. Entre dezembro de 2020 e o mesmo período de 2021, 688 mil famílias da cidade entraram no rol de endividados. O total atual é de 2,98 milhões de lares com algum tipo de dívida.
“Foram três meses de altas seguidas do endividamento. Isso mostra, claramente, que a inflação é a vilã do orçamento doméstico”, diz Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP.
A despeito de o endividamento ter atingido todos os perfis de famílias em São Paulo, a proporção entre aquelas com renda abaixo de dez salários mínimos foi de 78% em dezembro, enquanto entre aquelas com renda superior a isso ficou em 64,2%. Para ambas, no entanto, os patamares são recordes.
Apesar de o endividamento ter registrado altas consecutivas em 2021, a inadimplência apresentou certa estabilidade. Em dezembro, o porcentual das famílias com dívidas em atraso diminuiu ante novembro, para 20,2%. Em relação ao mesmo período de 2020, porém, houve avanço de 1,2 ponto porcentual (54 mil famílias). Atualmente, o total de lares com dívidas em atraso soma 805,5 mil.
Para a FecomercioSP, os “feirões de limpa nome”, tradicionalmente realizados no fim do ano, bem como a renegociação com condições especiais para a regularização da dívida em atraso, são algumas das razões para a estabilidade na inadimplência. Quando se analisa a inadimplência por faixa de renda, no entanto, há discrepância grande: 24,5% das famílias com menor poder aquisitivo têm dívidas em atraso, enquanto para as de renda mais elevada a taxa foi de 9,3%. Em dezembro de 2020, os percentuais registrados eram de 23% e 9%, respectivamente.
O tempo de comprometimento da dívida chegou à média de 7,9 meses em dezembro de 2021, o maior nível desde junho de 2020. As dívidas com período superior a um ano são as que mais cresceram, segundo a FecomercioSP. O dado, diz a entidade, reflete que as famílias estão postergando os compromissos o máximo possível. O cartão e os carnês, por exemplo, são utilizados para diluição dos pagamentos no longo prazo, com objetivo de aliviar o bolso no presente.
“Essa disponibilidade através dos cartões de crédito foi crucial para que as famílias continuassem consumindo”, diz Dietze. No mês passado, o cartão de crédito atingiu novo recorde entre os endividados (87%). Em dezembro de 2020, o porcentual era de 71,3% - ou seja, são mais 958 mil famílias com dívidas no cartão.
Os carnês aparecem logo depois, com 21%. Embora o percentual esteja um pouco abaixo dos meses anteriores, o patamar ainda é alto em termos históricos, aponta a FecomercioSP. Já o crédito pessoal (11,1%) está no maior patamar desde setembro de 2019. Para 2022, é esperada uma manutenção do endividamento em níveis elevados, mas sem forte tendência de alta, segundo Dietze.