Valor Econômico, v. 22. n. 5421, 20/01/2022, Política, A6 

Governo Bolsonaro convida aliado de Pacheco para ser líder no Senado

Vandson Lima e Fabio Murakawa 

 

Um dos principais aliados do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Alexandre da Silveira (PSD-MG) foi convidado para assumir a vaga de líder do governo do presidente Jair Bolsonaro no Senado. A informação foi confirmada ao Valor por senadores governistas e por dois interlocutores do Palácio do Planalto a par da negociação. 

Segundo as fontes, Silveira, que, na verdade, ainda nem foi empossado como senador, tende a aceitar a função, mas os interesses do PSD, que pretende se opor a Bolsonaro tanto no plano nacional quanto na eleição mineira podem travar o acordo. A escolha surpreende, já que Silveira é não apenas aliado, mas amigo de Pacheco há mais de 20 anos e visto como seu operador político. Pacheco é um possível concorrente de Bolsonaro na disputa presidencial deste ano e sua atuação no ano passado era vista como contrária aos interesses do governo. 

Silveira era suplente do senador Antonio Anastasia (PSD-MG), que assumirá a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), e se tornará oficialmente senador com o retorno dos trabalhos legislativos, no início de fevereiro. Ele esteve na semana passada, dia 11, com o presidente Jair Bolsonaro para tratar da ajuda federal a Minas Gerais, atingida pelas fortes chuvas. Em suas redes sociais, relatou que, após a conversa, Bolsonaro o colocou em contato com boa parte do primeiro escalão governamental. Retornou ao Estado acompanhado dos ministros Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). “Não quero saber de que partido é o governo, quero é ajudar na solução dos problemas que estamos enfrentando”, relatou no Twitter. 

A disputa interna no Senado para o TCU, em dezembro, foi um marco na mudança de status do novo senador e possível novo líder. Segundo uma fonte do primeiro escalão do governo, Silveira tem boa relação com quase todos os senadores e foi um dos grandes articuladores da candidatura de Anastasia. Com três senadores no páreo, Anastasia venceu com larga margem, de 52 votos, numa vitória avassaladora contra o antigo líder do governo Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). O senador pernambucano teve apenas 7 votos e terminou a votação em terceiro lugar, atrás também de Kátia Abreu (PP-TO), que teve 19 votos. 

A derrota humilhante levou Bezerra a entregar o cargo de líder a Bolsonaro, alegando não ter mais condições de representar o governo diante dos colegas. Justamente o cargo para o qual Silveira agora é convidado. 

A entrada do senador do PSD na representação do governo não necessariamente aproxima o partido de Bolsonaro, mas pode ajudar a dar melhor encaminhamento a matérias consideradas prioritárias pelo Palácio. O PSD é a segunda maior bancada do Senado, com 11 integrantes, atrás apenas do MDB, com 16 senadores. Outros nomes cotados para a liderança do governo são Márcio Bittar (PSD-AC), Marcos Rogério (DEM-RO) e Jorginho Mello (PL-SC). 

No campo político, a nomeação criaria ruído no jogo de alianças: além da pré-candidatura de Pacheco a presidente, Silveira é o candidato ao Senado da chapa de Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte, ao governo de Minas. Caso Pacheco desista, Kalil poderá ceder seu palanque no Estado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje lidera as pesquisas de intenção de voto, à frente de Bolsonaro, candidato à reeleição. O PT mineiro até concordaria, em troca do palanque para Lula, em apoiar a chapa de Kalil com Alexandre Silveira como candidato ao Senado. A costura, contudo, ficaria improvável sendo Silveira de líder do governo Bolsonaro. 

Silveira, de 52 anos, é presidente do PSD mineiro. Delegado da Polícia Civil, já foi deputado federal, diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) do Estado e Secretário de Gestão Metropolitana de Minas Gerais no governo de Antonio Anastasia. Desde a eleição de Pacheco até assumir a vaga de senador, atuou como diretor de Assuntos Jurídicos do Senado Federal.