Valor Econômico, v. 22. n. 5421, 20/01/2022, Política, A8

Presidente do PSB diz não ter expectativas em relação a acordos

João Valadares
 

Em meio ao tensionamento crescente causado por impasses regionais, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, declarou que não cria nenhuma expectativa em relação às costuras para efetivação de alianças com o PT nos Estados.

O dirigente do PSB, em entrevista ao Valor, reiterou que o ex-governador Márcio França (PSB) só não será candidato em São Paulo se não quiser. “Temos uma demanda. Se houver convergência, tudo bem. Se não houver, cada um cuida da sua vida. Teremos dois candidatos [em São Paulo]”, afirmou. O PT já deu sinais de que não vai retirar a pré-candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad ao governo paulista.

A manutenção da postura crítica de Siqueira em relação às negociações sobre composições eleitorais por parte do PT ocorre um dia antes de encontro dele em Brasília com a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann. “Não há avanço nenhum ainda”, disse.

No fim do ano passado, depois de reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Siqueira reclamou publicamente da falta de respostas do PT em relação a Estados considerados prioritários para o PSB. O partido cobra, para firmar aliança com o PT, apoio a candidatos majoritários em seis Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Acre e Maranhão. “Na medida em que os Estados não forem contemplados, há algumas implicações”, avaliou Siqueira.

A postura do presidente do PSB tem desagradado o ex-presidente Lula. Nos bastidores, parlamentares próximos ao petista apontam que ele conta com a interlocução do governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB), que ocupa a vice-presidência nacional do PSB, para driblar possíveis obstáculos impostos por Siqueira.

Câmara defende que os arranjos locais não podem se sobrepor à aliança nacional entre os dois partidos. Em 2018, a partir de Pernambuco, o PT conseguiu costurar a neutralidade do PSB no primeiro turno da eleição presidencial. O movimento, que contou com a retirada da disputa estadual da deputada Marília Arraes (PT) para apoiar a reeleição de Câmara, acabou isolando nacionalmente o candidato a presidente Ciro Gomes (PDT). O pedetista terminou em terceiro lugar.

Para ter moedas de troca em negociações com o PSB, o PT tem lançado uma ofensiva eleitoral justamente nos Estados considerados prioritários para o principal aliado no campo da esquerda. Em Pernambuco, a pré-candidatura do senador Humberto Costa é reforçada pelo PT nacional.

No Espírito Santo, onde o governador Renato Casagrande (PSB) vai disputar a reeleição, o movimento é semelhante. O PT tem incentivado a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato, que vai se filiar ao partido na próxima semana.

As disputas regionais ocorrem no momento em que PT e PSB debatem a criação, ao lado de outras legendas menores, de uma federação partidária. Em entrevista ao Valor, Gleisi Hoffmann admitiu que não será fácil formar uma federação com PSB. A dirigente do PT, no entanto, ponderou que os dois partidos estarão juntos na disputa nacional.

Carlos Siqueira ressaltou que as conversas para formalização da união estão em andamento: “Vamos aguardar e não antecipar resultados. Não é questão de acreditar ou não. As questões [dos Estados] estão ligadas. Não se sabe o futuro. Estamos abertos à discussão.”