Valor Econômico, v. 22. n. 5421, 20/01/2022, Especial, A12
Estados ampliam pouco ou até reduzem número de leitos para covid
Rafael Vazquez
Apesar da forte disparada de casos de covid e da alta demanda por internações em algumas cidades, Estados abriram, desde o início do surto provocado pela variante ômicron, um número limitado de novos de leitos, tanto de enfermaria quanto de UTI. Em alguns casos, o número de unidades exclusivas para o tratamento de coronavírus até caiu, por causa da eficácia das vacinas que tem se mostrado capaz de reduzir a gravidade das infecções.
Levantamento realizado pelo Valor com informações de 13 secretarias estaduais de Saúde, mostrou que seis Estados ampliaram o número de leitos de enfermaria ou e Unidades de Terapia Intensiva (UTI) desde dezembro, quando a variante ômicron começou a se espalhar rapidamente pelo país, até essa semana. São eles: Amazonas, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Pernambuco e Piauí.
A reportagem pediu informações a todas as secretarias estaduais e para a do Distrito Federal sobre quantos leitos para covid havia em suas redes no início de dezembro e quantas há agora.
Entre as secretarias que deram informações sobre sua rede, o Amazonas se destaca pelo acréscimo de leitos. Palco de uma crise sanitária no meio da pandemia com a variante gama, o Estado ampliou os leitos públicos de enfermaria para covid de 967, no início de dezembro, para 1.151. O número de UTIs reservadas para a doença subiu menos: de 225 para 243. A taxa de vacinação no Estado está perto em 64,3% para a primeira dose e em 53,8% para segunda dose.
Diante do cenário mais preocupante, a Secretária de Saúde Amazonense informou que mantém requisitados 81 leitos clínicos e 22 leitos de UTI do Hospital de Combate à covid-19 Nilton Lins desde 25 de janeiro de 2021. “Caso haja aumento da taxa de ocupação nos demais hospitais, a unidade será reativada para recebimento dos pacientes”, disse em nota.
O Piauí, de dezembro até esta semana, o número de leitos de enfermaria subiu de 310 para 352, enquanto os de UTIs aumentaram de 142 para 148. A Secretaria de Saúde do Estado disse que há ainda a previsão de abertura de mais dez leitos de UTI e dez clínicos em Parnaíba, segunda maior cidade do estado.
Em São Paulo, são cerca de 6 mil leitos de enfermaria, que atualmente encontram-se com ocupação média de 56,3% e cerca de 4 mil leitos de UTI, com ocupação de 51,7%. A Secretaria de Saúde de São Paulo não informou os dados de dezembro, mas afirmou que, em janeiro, desacelerou o redirecionamento dos leitos exclusivos para a assistência do coronavírus e ampliará de novo em caso de necessidade.
Quando a ômicron começou a se disseminar pelo país, em dezembro, hospitais públicos e privados viviam uma situação relativamente confortável em relação a disponibilidade de leitos para covid. O país, que havia vivido um pesadelo de hospitais abarrotados nos primeiros meses de 2020, fechava o ano com números da pandemia em baixa - por conta do avanço da vacinação. Consequentemente, muitos leitos estavam vagos.
Mas então, a nova variante mudou o quadro. O marco de contaminações foram as festas de fim de ano, afirmam especialistas em saúde. “A situação mudou muito rapidamente. E agora a dificuldade de ampliar vagas começa a pesar”, diz Paulo Menezes, coordenador do centro de contingência ao coronavírus do governo de São Paulo.
Ampliar de maneira repentina a oferta de leitos esbarra em pelo menos dois obstáculos: um deles, financiamento. Os leitos podem ser custeados de forma partilhada por prefeituras, Estados e União. Ou apenas por Estados e prefeituras. Em alguns casos, pressionados pela realidade, prefeituras bancam sozinhas. A questão é quão rápido recursos chegarão na ponta para dar conta de uma eventual necessidade de novos leitos. Mas há outro obstáculo que, no momento, parece ser mais complexo. Gilberto Perre, secretário-geral da Frente Nacional de Prefeitos diz que se a decisão for de aumentar rapidamente o número de leitos, uma dificuldade será profissionais de saúde disponíveis.
O desafio para os gestores nessa fase da pandemia é avaliar se será necessário uma ampliação rápida e significativa no número de leitos ou se ainda os leitos disponíveis poderão dar conta da demanda até que a onda de contágio comece a refluir. Perre diz que prefeitos da frente se reúnem na próxima semana para uma avaliação conjunta do quadro. Alguns especialistas estimam que o pico de contágios deva ocorrer em fevereiro para em seguida começar a uma queda.
Em Santa Catarina, os dados mostram uma redução clara no número de leitos para covid, apesar do maior números de contaminações causado pela ômicron. “O aumento de casos, pelo menos até agora, não se refletiu na gravidade”, explica o secretário de Saúde do Estado, André Motta, que também atribui o cenário à vacinação.
“Nesse momento, por exemplo, eu tenho 183 pacientes internados por coronavírus em UTIs e 315 leitos livres. Portanto, estamos fazendo uma dosagem e usando leitos para casos pós-operatórios”, acrescenta Motta, ressaltando que ao menos 250 unidades de terapia intensiva podem ser facilmente reconvertidas para covid em Santa Catarina, caso seja necessário.
Em Minas Gerais, na rede estadual de saúde, o número de leitos de UTI covid passou de 4 mil em dezembro para 4.066 neste mês. Já o total de leitos de enfermaria foi reduzido de 19.879 para 19.571 leitos. A secretaria diz que monitora as regiões e a taxa de ocupação, para que uma região possa dar suporte a outra região em caso de estresse na rede assistencial.
Um contexto parecido é observado no Paraná, onde os leitos de enfermaria para covid caíram de 773 para 515 entre dezembro e janeiro e as UTIs, de 762 para 477. A rede hospitalar do Estado havia praticamente dobrado desde o início da pandemia. (Colaboraram Marina Falcão, do Recife, Cibelle Bouças, de Belo Horizonte, Alessandra Saraiva, do Rio, e Marcos de Moura e Souza, de São Paulo)