O GLOBO, n 32.351, 04/03/2022. Política, p. 4

Polícia Federal abre novo inquérito contra presidente

André de Souza


Bolsonaro é investigado por declaração falsa ligando vacinação e Aids; é a sexta apuração que tem o chefe do Planalto como alvo

A Polícia Federal (PF) instaurou na semana passada um novo inquérito contra o presidente Jair Bolsonaro, dessa vez para apurar as declarações, dadas durante transmissão pela internet em outubro do ano passado, em que ele fez uma ligação falsa entre a vacinação contra a Covid-19 e o desenvolvimento da Aids. A decisão de abrir o inquérito foi tomada em dezembro pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mas a investigação na PF começou apenas na semana passada, e chegou oficialmente ao conhecimento da Corte na última quarta-feira.

Em documento enviado ao STF, a delegada Lorena Lima Nascimento, responsável pelo inquérito, disse querer a ajuda das autoridades sanitárias do Reino Unido e dos Estados Unidos para auxiliar nas apurações. Ela disse que pediu duas providências. A primeira delas é confirmar que não houve divulgação em sites oficiais das autoridades do Reino Unido da informação, conforme afirmou Bolsonaro, de que “os totalmente vacinados (...) estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto”.

A delegada também quer que seja procurado o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas —NIAID, dos Estados Unidos. O objetivo é “saber se existe alguma publicação de profissionais que compõem o instituto, em especial do médico imunologista Anthony Fauci, do NIAID, concluindo que a maioria das mortes da gripe espanhola tenham acontecido devido a uma pneumonia bacteriana secundária, e que a proliferação dessa bactéria esteja associada ao uso de máscaras”. Essa declaração também foi dada por Bolsonaro durante a transmissão ao vivo.

Lorena também pediu ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF, o compartilhamento de uma investigação preliminar sobre o assunto conduzida pela Procuradoria Geral da República (PGR).

“Não há dúvidas de que as condutas noticiadas do Presidente, no sentido de propagação de notícias fraudulentas utilizam-se do modus operandi de esquemas de divulgação em massa nas redes sociais”, escreveu Moraes ao ordenar a abertura do inquérito.

Além dessa investigação, Bolsonaro é alvo de outros cinco inquéritos, quatro no STF e um correndo no TSE. Em dois deles, a PGR já se posicionou pelo arquivamento: na acusação de prevaricação por não ter agido quanto às suspeitas de corrupção na negociação para compra da Covaxin, caberá à relatora Rosa Weber decidir se concorda com o arquivamento; no caso do vazamento de inquérito sigiloso que apura ataque hacker ao TSE, a PF viu crime de Bolsonaro, e a PGR pediu arquivamento. O relator é Moraes.

O presidente é investigado ainda nos casos de interferência na Polícia Federal, acusação feita pelo ex-ministro Sergio Moro; no das milícias digitais que atacam a democracia; e num inquérito administrativo no TSE sobre os ataques do presidente ao sistema eleitoral brasileiro e às urnas eletrônicas.