A palavra imagem cobre um vasto oceano de sentidos. Do ponto de vista da prática política, um desses sentidos, bem intrigante, é aquele que substitui a palavra conceito. Do governante que é bem avaliado nas pesquisas de opinião pública, diz-se que tem uma boa "imagem". A acepção do termo não é nova, por certo, mas agora, em nossa época, ela acentua ainda mais a prevalência do visível sobre o imaterial ou da representação sobre o pensamento. A popularidade da marca sobrepõe-se à legitimidade da proposta, soterrando-a. Marca - eis aí outra palavra crucial. Os governos, como os políticos ou os partidos, adquirem o aspecto integral da mercadoria. Nesse regime, o voto opera como moeda, sendo capaz de realizar o "valor de troca" da logomarca política na indústria (e no mercado) do imaginário. A democracia, por fim, transmuta-se em espetáculo.
Notas:
Eugênio Bucci, jornalista, é professor doutor da Escola de Comunicações e Artes da USP e também da ESPM. É autor de "Em Brasília, 19 horas".