Nunca houve tanta liberdade de palavra no mundo. O debate a respeito, nos séculos que precederam a democracia, pode ser resumido em duas formulações de dois filósofos em princípio muito parecidos nos fundamentos de suas teorias políticas. Para Hobbes, a liberdade de expressão acentua extraordinariamente o poder de fratura e divisão que mina - dada a natureza humana - o poder político e, por conseguinte, a paz entre os homens. A palavra, em seu poder como signo, é o maior perigo para a paz. Já para Espinosa, a liberdade de expressão em nada ameaça o poder de Estado, o que permitiria conciliar um Estado no qual a soberania se exercesse forte e a livre expressão, justamente porque ela não ameaça o poder público. Talvez aqui resida uma oposição séria, não apenas entre liberdade de expressão e poder político, mas entre duas formas de ver a própria liberdade de palavra em sua dimensão política.