"A relação entre desigualdade de renda e crescimento econômico está longe de ser um assunto já consolidado na teoria econômica. Algumas teorias propõem que o crescimento afeta a desigualdade, enquanto outras arguem que a desigualdade tem impacto sobre o crescimento. Existem, também, teorias em que a correlação entre as duas variáveis é positiva, enquanto em outras esta correlação é negativa. O presente estudo tem por objetivo comparar algumas dessas teorias. O foco é o efeito provocado pela desigualdade no crescimento de longo prazo em países de baixa e média renda. O senso comum considera que aumentos na desigualdade são correlacionados com maior crescimento econômico devido ao efeito sobre a poupança (os ricos poupam mais que os pobres) e também devido a incentivos (na ausência de redistribuição de renda, pessoas talentosas recebem o fruto de seus esforços). Por outro lado, existem várias maneiras pelas quais a desigualdade prejudica o crescimento. Há na literatura de economia política duas teses principais: uma em que a desigualdade induz o sistema político a adotar políticas redistributivas e em consequência disso desencoraja os investimentos; e outra em que o mercado consumidor não é grande o suficiente para viabilizar a industrialização. A literatura macroeconômica atua em duas vertentes distintas: incapacidade de países desiguais em alocar os custos de um programa de ajustamento macroeconômico e sustentar o crescimento por período de tempo longo o suficiente para alcançar elevados níveis de renda. Estudos econométricos aplicados têm sido incapazes de demonstrar um claro padrão de relação causal entre a desigualdade e crescimento. Muitos problemas impõem limites a esses estudos: causalidade reversa, erros de medição, viés de amostra e a não linearidade são algumas dessas barreiras. Avanços na teoria e nas evidências neste campo parecem ser dependentes de microdados e de estudos de caso."